Durante a prática do Aikido é muito importante a participação do uke. Ele é o praticante que propicia um ataque para que seu colega nague (aquele que executa a técnica) pratique, durante os treinos, os movimentos de defesa. Estes papéis estão constantemente se alterando, durante a aula, um ora é nague, ora é uke. E este é, guardada as devidas proporções, um misto de partner de dança, com um sparring de Boxe. Esta comparação tem por objetivo facilitar a compreensão do que seria a função de um uke no ambiente do Aikido.
Constantemente se observa a importância unilateral e desproporcional que os praticantes dão para seu papel de nague, não percebendo que este praticante não poderá realizar um treino satisfatório sem o esforço solidário de um bom uke.
Muito antes de tentar aprender a executar bem os movimentos de defesa, devemos aprimorar os nossos ukemi, a arte de cair. E nos esmerar em executar bem os movimentos de ataque (shomen uti, yokomen uti, kata te tori…), com perfeição e realismo, sem displicência, evitando opor resistência desnecessária. Mas, por outro lado, não exagerando nesta atitude e sendo demasiadamente mole. Devemos buscar o equilíbrio nos nossos movimentos e a harmonia com nosso colega de treino. Procuremos portanto desempenhar com seriedade e esmero este papel, assim procedendo teremos todos bons companheiros de treino e estaremos praticando um bom e saudável DO.
Reside aí um dos elementos que distingue visceralmente o Aikido das outras artes marciais. Ele foi concebido de uma forma que só é possível alguém crescer dentro dele com a participação do outro. Eis porque o Aikido não é um caminho solitário, e sim uma via solidária. Durante a prática deste DO a aceitação do outro, o amor ao próximo, o respeito, assim como outras expressões, deixam de ser apenas palavras para serem, necessariamente praticadas, porque devem ser manisfestadas no corpo, e não ser apenas mais um discurso intelectual e mental. A prática deve estar sempre banhada pela luz da harmonia.
Necessitamos treinar sempre com harmonia e buscando a perfeição dos movimentos, pois eles só ficarão definitivamente impressos no cérebro após anos de treino e milhares de repetições. Então assim, eles estarão para sempre à disposição, para uso imediato, sem necessidade de pensar conscientemente para realiza-los.
Como o aprendizado se dá através de repetições é fácil perceber que estas devem ser efetuadas com precisão. Seria como gravar uma música com sons externos a ela, interferências. Quando fossemos reproduzi-las não obteríamos uma reprodução fiel. Esta é a razão pela qual, para praticarmos um Aikido necessitamos de bons ukes.
por Vargas Sensei
originalmente publicado em GIRI, ano III, N2, OUT de 1995
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